Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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Não esquecer o Carandiru

Peço licença para tocar num tema espinhoso: a invasão do Carandiru pela Polícia Militar, em 2 de outubro de 1992. O governador era Fleury Filho, que apoiava seu ex-secretário Aloysio Nunes Ferreira (hoje senador) para prefeito da Capital, no pleito do dia seguinte.

O episódio, conhecido como “massacre do Carandiru”, teve como saldo a morte de 111 presos, embora há suspeitas de que tenha sido bem maior o número de vítimas. O depoimento de um velho perito, no julgamento que acontece nesses dias, não deixa dúvidas: “Havia sangue até as minhas canelas”.

Certamente, nenhum dos milhares de presos do Complexo do Carandiru era inocente. Estavam lá cumprindo penas por crimes graves, como latrocínio. Eram, no entanto, pessoas sob a guarda do Estado, a quem cabia garantir a integridade dos detentos.

Quero, também, aqui, tocar em outros assuntos que geralmente são omitidos. E a primeira pergunta que me ocorre é: que sociedade é a nossa, que cria tantas situações propícias ao crime e gera tamanho número de criminosos?

Outra questão é referente ao Estado. O Estado brasileiro, com sua omissão, seus desvios, seu comprometimento com o poder econômico, estimula a exclusão, alimenta a marginalidade e fabrica criminosos. Fabrica, condena, não possibilita oportunidades de recuperação e, com a mão pesada da repressão, massacra no atacado e no varejo. Estão aí as chacinas nas periferias a confirmar essa política de intolerância e de extermínio.

O Brasil já avançou em muitos setores. Mas é pequeno o progresso na questão da segurança pública, na prevenção e no combate ao crime. A lei muitas vezes é frouxa, a Justiça quase sempre é lenta e as condições oferecidas aos presidiários geram revolta, promiscuidade, doenças e quase nenhuma chance de recuperação.

O Carandiru não existe mais. Em seu lugar, o governador Geraldo Alckmin ergueu o Parque da Juventude, propiciando um belo espaço público de lazer e recreação. Mas essa medida acertada não esconde erros de outros governantes, inclusive a tentativa de adiar a divulgação do massacre, a fim de não abalar ainda mais a frágil candidatura do atual senador Aloysio à Prefeitura da Capital, no dia seguinte.

Nós não temos o direito de esquecer o Carandiru. Mas temos o dever de trabalhar por uma sociedade mais justa e um Estado que cumpra seu dever de proteger o cidadão e a sociedade. 

José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
E-mail: pereira@metalurgico.org.br
Blog: www.pereirametalurgico.blogspot.com

Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje, dia 17 de abril.

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