Preservar a memória

Há muitas maneiras de se medir a qualidade de um país e de uma época. Certamente,  uma dessas maneiras é a forma com que os povos - e os governos - tratam sua própria memória.

Neste ano, quando nosso Sindicato chega a meio século de vida, estamos fazendo um esforço de valorização da nossa memória. E de várias formas.

Dia 27, homenageamos em jantar no Clube de Campo cerca de 80 companheiros com mais de 25 anos de sindicalização. Ao homenagear esses homens e mulheres que há décadas participam do Sindicato, a diretoria reverencia todas as gerações metalúrgicas que escreveram coletivamente essa história de 50 anos.

Na mesma data, prestamos homenagem à memória do ex-presidente João Goulart, em cujo mandato, em 30 de abril de 1963, obtivemos nossa Carta Sindical. Vale lembrar que Jango, quando ministro do Trabalho, dobrou o salário mínimo e, na Presidência, instituiu o 13º salário, no ano de 1962.

Dia 30 de abril, lançamos o livro “Perfil dos Trabalhadores Metalúrgicos de Guarulhos e Região”, baseado em ampla e criteriosa pesquisa do Dieese junto a 2.088 trabalhadores. Pesquisadores atuais, e do futuro, terão nesse livro um impressionante manancial de informações sobre a atual geração metalúrgica – como vivem, como trabalham, quanto ganham etc.

Na festa, em nosso Clube, dia 5 de maio, a diretoria prestou homenagem ao histórico líder metalúrgico José Ibrahim, que em 1968 liderou a valente greve da Cobrasma, em Osasco, no primeiro enfrentamento operário contra a ditadura. Ibrahim faleceu dia 2 de maio e nos deixou um legado de coerência e lucidez.

Oportunamente, vamos reverenciar outro grande brasileiro: Almino Afonso. Foi ele, quando ministro de Trabalho do governo Jango, que nos concedeu a Carta Sindical. Combatente das causas democráticas, Almino é a memória viva do período atribulado pré e pós-golpe de 1964. É outro brasileiro que nos orgulha com seu exemplo de vida e sua aguda capacidade de análise política.

A história é uma construção coletiva. Mas o processo histórico faz despontar lideranças que influenciam sua época. Muitas dessas pessoas ganham notoriedade. Outras, mesmo contribuindo de forma decisiva, acabam não tendo o devido reconhecimento.

Ao revisitar a história, contar fatos e reinterpretar acontecimentos, por meio de depoimentos, nosso Sindicato quer ajudar a preservar a memória. Até porque há uma outra marca que indica a força de um povo: é o domínio de seu passado e de sua história. Sem o que a tarefa de construir o futuro se torna mais difícil e custosa. 

José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
E-mail: pereira@metalurgico.org.br
Blog: www.pereirametalurgico.blogspot.com

Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje, dia 8 de maio.