A questão dos médicos
É errado considerar o particular mais importante que o geral. Digo isso em razão da polêmica sobre a importação de médicos. Até porque a importação, em si, nem é problema, nem é solução. É parte, apenas, de uma situação mais geral.
Por que faltam médicos? Por várias razões. Uma delas é devido à falta de planejamento. Faltam médicos da mesma forma que faltam engenheiros, pesquisadores de alto nível e profissionais técnicos qualificados em diversas áreas.
Antigamente não faltavam médicos. Claro, o Brasil era rural, o caboclo usava remédio caseiro e se valia de benzedeiras, enquanto via sua saúde ruir ante verminoses, mal de Chagas e outros males típicos do atraso.
A urbanização acelerada mudou esse quadro. Nas cidades, o padrão cultural, necessidades e exigências das pessoas se alteram. Elas necessitam de serviços, privados ou públicos, com qualidade. Nos últimos anos, milhões de brasileiros subiram de classe social. E as exigências também subiram. Como o atendimento à saúde pública é precário, a crise no setor veio à tona.
Um dos erros de planejamento foi não ter aberto mais escolas de Medicina ou expandido as vagas. O setor privado avançou, especialmente na área de Humanas, onde as mensalidades são mais acessíveis. Porém, cursos de Medicina são caros, o que dificulta a massificação.
Saída - Ante a forte pressão por mais médicos, o governo adotou a medida racional de possibilitar a vinda de estrangeiros. Mas essa medida precisa seguir critérios legais e técnicos, o que está sendo feito.
O pobre das metrópoles e dos fundões do Interior clama por mais médicos e saúde decente. Tanto faz se o médico é português ou é cubano: a pessoa quer ser socorrida. É cômoda a situação de quem critica, tendo um bom convênio ou podendo pagar consulta particular.
Mídia - Há também exageros na mídia, movida pela ideia de que, sendo de Cuba, os médicos vão difundir o comunismo. Há exageros e incoerência. A revista Veja, em 20 de outubro de 1999, publicou a reportagem “Doutores de Cuba”, tratando da atuação de médicos cubanos no Norte do País (um deles, hoje é prefeito em Roraima). Publicou, registrou, sem rancor.
O Brasil sempre acolheu estrangeiros. Essas pessoas se integraram à vida nacional e ajudaram o País a crescer. Ninguém tirou emprego de brasileiro ou atuou contra o interesse nacional.
Sem abrir mão do direito de questionar, devemos ser receptivos e tolerantes. É errado politizar esse assunto. Quem está doente e precisa de atendimento não pode esperar mais.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
E-mail: pereira@metalurgico.org.br
Blog: www.pereirametalurgico.blogspot.com
Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje, dia 28 de agosto.