Reforma agrária inteligente

João Vicente Goulart, filho de Jango, esteve com o sindicalismo em São Paulo, dias 9 e 10, e falou da atualidade das reformas de base defendidas por seu pai. Uma dessas reformas era a agrária, que em 1964 causou tanta reação da elite rural e urbana, como também do alto clero.

Naquela época, 75% dos brasileiros viviam na zona rural, dominada por grandes fazendeiros, muitos deles atrasados e verdadeiros escravagistas. O Presidente Jango queria colocar um mínimo de dignidade no ambiente rural.

Qual era seu modelo de reforma agrária? Era muito prático. Tratava de entregar às famílias 1 milhão de lotes, com alguns hectares, em regiões onde havia a presença do Estado, preferencialmente ao longo de rodovias e ferrovias e também próximo a represas.

Essa localização visava possibilitar um mínimo de conforto aos agricultores, facilitar o deslocamento das famílias, o acesso a serviços públicos (como escolas) e, claro, o escoamento da produção.

Era assim: 1 milhão de pequenas glebas; um milhão de propriedades tituladas e produtivas; mercado interno aquecido; compra de ferramentas e equipamentos; fortalecimento da nossa indústria; mais empregos urbanos.

Isso foi há 50 anos. Mas a elite reacionária impediu a reforma agrária e outras em favor da nação. Por isso, nossas cidades incharam; a explosão urbana ficou incontrolável; e estão aí como herança maldita do golpe de 1964: enormes bolsões de pobreza; falta de habitações decentes; exclusão social; e aumento da violência.

Jango era um político correto e tinha um projeto de Nação. A reforma agrária que propunha teria ajudado a tirar o País do atraso, promovendo um desenvolvimento planejado – até porque ele também queria fazer a reforma bancária, para democratizar o crédito.

A fala de João Vicente Goulart nos emociona, pois mostra um Jango nacionalista, patriota, amigo dos trabalhadores e defensor da economia nacional. Mas, além de nos emocionar, chama para a necessidade de pensarmos o Brasil, com inteligência, estratégia e, acima de tudo, espírito público.

Visita - No dia 30 de abril, João Vicente Goulart nos visitará por ocasião dos 51 anos do nosso Sindicato. O auditório em nossa sede será denominado Plenário Presidente João Goulart, pois foi em seu governo que o Sindicato recebeu reconhecimento. Morto em 1976, no exílio, em condições suspeitas, Jango merece essa e todas as homenagens.

José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
E-mail: pereira@metalurgico.org.br
Blog: www.pereirametalurgico.blogspot.com

Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje, dia 9 de abril de 2014.