Carta ao eleito

Escrevo ao futuro presidente da República antes de conhecer o resultado do segundo turno. Penso, porém, que esta carta pode ser do interesse tanto de Dilma quanto de Aécio.

Governar o Brasil não é fácil. Temos dimensão continental, realidades econômicas diferentes, vários contextos sociais e problemas crônicos.

Tenho comigo que o primeiro desafio é político. Precisamos elevar nosso patamar político por meio de uma reforma ampla, apoiada pela sociedade. O ponto zero é o financiamento de campanha, que hoje torna a disputa desigual, afastando candidatos sem cobertura do poder econômico.

Também considero que será bom para a democracia avançar na democratização da comunicação. A concentração de veículos, e redes, nas mãos de uma meia-dúzia cria monopólio, gerando a imposição de pontos de vista e todo tipo de manipulação. Se colocarmos em prática o que estabelece a Constituição de 1988, já será um grande avanço.

Outra providência, necessária, é na Educação, que precisa ser um efetivo direito do brasileiro. Eu colocaria como meta prioritária acabar com o analfabetismo; ampliaria a carga horária no ensino básico; e faria um programa nacional de reforma, ampliação e melhoria da rede física escolar. Claro que os avanços nesse campo trariam, também, ganhos de produtividade à nossa economia.

Não posso desconsiderar avanços recentes na infraestrutura nacional. Mas esse setor requer um cuidado especial, uma espécie de PAC exclusivo, com forte financiamento dos bancos públicos e engajamento de nossos melhores técnicos e universidades, na busca de soluções eficazes e duradouras. O custo-Brasil cairia, e muito.

O Brasil precisa de políticas efetivas e permanentes para a juventude. Do mesmo modo, o Estado não pode mais adiar programas voltados para os idosos – uma parcela crescente da nossa população, que envelhece. Tanto se fala no Mais Médicos. Eu definiria, nesse Programa, uma linha especial para a saúde dos idosos, prevenção, orientação, medicação e cuidados – o que pode ser feito pelo próprio Programa de Saúde da Família, do SUS.

Eu poderia relacionar outras áreas, identificar problemas e apontar o que considero soluções. Não é o caso. O eleito terá seu programa de governo e a nós caberá fiscalizar, a fim de que cumpra o que prometeu.

Por fim, ética no governo; distância necessária do que for só interesse privado; rigor na apuração de eventuais responsabilidades. Ser exemplar, enfim.

Saúde ao eleito e sabedoria para bem cuidar dos interesses da Nação brasileira.

José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje, dia 29 de outubro de 2014.