Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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Superar a onda de escândalos

Nenhum país consegue se organizar, seguir adiante e progredir se viver sacudido por sucessivas ondas de escândalos.

Nos últimos dias, mal tínhamos tomado conhecimento da impressionante “lista de Janot”, caiu sobre a população a enxurrada de denúncias da operação “Carne Fraca”, revelada após dois anos de investigação da Polícia Federal. A operação não revela apenas carne contaminada e desprezo ao consumidor. Mostra também a contaminação em órgãos de fiscalização sanitária e a ingerência, espúria, do poder político por meio de nomeações de agentes do Estado.

Ninguém pode pôr em dúvida o rigor sanitário, quando se trata de alimentos para consumo humano. Mas há certos pontos escuros que precisam ser trazidos à luz do sol do meio-dia. Por exemplo: por que a revelação do problema (ou crime contra a saúde) acontece só agora, depois de dois anos de investigação em vários locais do País? Por que a denúncia explode no mesmo momento em que essas empresas ganham mercado internacional?

Como sindicalista, sei de graves problemas de saúde no segmento de frigoríficos, onde são muito comuns as doenças do trabalho e até mutilações irreparáveis, por causa do ritmo abusivo da produção e do esforço repetitivo dos trabalhadores. Tais fatos, não menos escandalosos, nunca foram denunciados pela grande mídia. Talvez porque as grandes empresas do segmento sejam também grandes anunciantes. Também não me lembro de denúncia por deputados ou senadores (pelo menos que tenha ganhado repercussão). Talvez porque as atuais denunciadas sejam todas grandes financiadoras de campanha.

Reafirmo e deixo claro: o desrespeito às normas sanitárias das empresas precisa ser punido, com rigor. Da mesma forma, devem ser punidos os agentes públicos que fizeram vista grossa às irregularidades ou assinaram laudo atestando boa qualidade para a carne contaminada. Também defendo que seja investigado todo político direta ou indiretamente envolvido com mais esse escândalo nacional e internacional.

A economia de um país precisa operar dentro de um limite mínimo de confiança entre os próprios agentes econômicos, a população e o Estado. Se os escândalos forem atingindo, como ocorre, empresas do porte da Petrobras, as grandes empreiteiras, o setor de carnes e instituições como o BNDES, de que forma vamos reorganizar nosso País e voltar a crescer? Como haverá retomada de investimentos e criação de empregos?

Lembro que no final dos anos 70 explodiu a chamada “peste suína”. A gravidade alegada pelas autoridades sanitárias levou ao abate do estoque suíno nacional e quase à sua extinção. Passados tantos anos, se verificou que não havia aquela epidemia e que o País reduziu rebanho, além de sacrificar nossa reserva de matrizes suínas.

O mundo disputa vários controles. Um deles é o do petróleo; outro controle já disputado é o da água potável; outra fonte de disputa é o domínio da produção de proteína animal, indispensável para a alimentação humana.

Faço essas observações para voltar ao ponto inicial. O Brasil precisa aprender a resolver os problemas de forma gradual, sem fabricar um escândalo a cada 24 horas.


José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região e secretário nacional de Formação Sindical da Força Sindical
E-mail:
pereira@metalurgico.org.br
Facebook: www.facebook.com/PereiraMetalurgico
Blog: www.pereirametalurgico.blogspot.com.br

Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje do dia 22 de março de 2017.

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