Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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Limites da negociação

Vai sair por esses dias um livro sobre a vida de Tancredo Neves. Na política nacional, nunca houve alguém com tamanha capacidade de negociação. Tancredo, além de negociador hábil, era homem de caráter. Tanto assim que nunca abandonou Getúlio Vargas, mesmo com o presidente sob cerrado fogo inimigo.

Pouco tempo depois de eleito presidente no colégio eleitoral, Tancredo Neves concedeu entrevista à imprensa internacional. Naquela época, a dívida externa era brutal. E um jornalista quis saber se o governo Tancredo pagaria a dívida. Sua reposta: - Pagaremos. Mas não será à custa da fome do povo brasileiro.

Ou seja, na política também existem limites. Cito Tancredo para chegar ao sindicalismo, que se defronta com três medidas muito ruins, apoiadas pelo governo: reforma da Previdência, reforma trabalhista e terceirização irrestrita. O movimento tentou segurar a terceirização na Câmara dos Deputados, mas seu presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não quis saber de negociar e aprovou a matéria.

As negociações persistem e as lideranças sindicais têm buscado diálogo com o governo federal. Vale dizer que dialogar está na essência da própria democracia. Dialogar faz bem ao regime democrático. O que deve ser questionado são os limites dessa negociação.

A grande imprensa alardeou, no último final de semana, que as Centrais estariam negociando com o governo um abrandamento da resistência às reformas em troca da garantia de recursos para as entidades de classe. Esse noticiário criou muita confusão. Vale esclarecer.

Primeiro. Não há negociação nesses termos, ou seja, o sindicalismo não coloca na mesa de negociações a troca de direitos pela garantia de custeio. Segundo. Os recursos sindicais não vêm do governo, não dependem de canetada de presidente da República ou de ministros. As contribuições às entidades são arrecadadas das categorias profissionais, que autorizam em assembleias. Exceto o caso do imposto sindical. Esse imposto é obrigatório e supre tanto entidades de trabalhadores quanto sindicatos patronais.

Comecei com Tancredo e termino com Fidel Castro, outro exímio negociador. Dizia o cubano: - Em política, se negocia tudo. Menos os princípios. Os princípios são inegociáveis.

Pesar - Perdemos neste final de semana o jornalista e ativista sindical Eduardo Pavão. Que seu exemplo, sua inteligência e sua generosidade inspirem a todos nós. O homem passa, a obra persiste.

José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
e secretário nacional de Formação Sindical da Força Sindical
E-mail: pereira@metalurgico.org.br
Facebook: www.facebook.com/PereiraMetalurgico
Blog: www.pereirametalurgico.blogspot.com.br

Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje do dia 29 de março de 2017.

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