• 24/7/2019 - quarta-feira
Quinta-feira, 18 de julho de 2019, foi um dia de grande tristeza para o sindicalismo e a classe trabalhadora. Naquela tarde, o Brasil perdia Walter Barelli, o histórico diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Barelli também foi Ministro do Trabalho e deputado federal. Ele estava às vésperas de completar 81 anos.
Era uma pessoa simples, paciente e dedicada à classe trabalhadora. Barelli foi bancário e também se formou em Economia. Como economista do Dieese, ele levou seu conhecimento a gerações de dirigentes sindicais, que, a partir desse aprendizado, dominaram noções de economia e se qualificaram mais para as negociações com o patronato.
Com Barelli, o Dieese cresceu e passou a abrir subseções em Sindicatos de maior peso. A primeira foi aberta nos Metalúrgicos do ABC, a pedido do próprio Lula, que presidia o Sindicato. Walter Barelli contava que Lula tinha grande interesse em saber mais sobre economia. Com isso, ele passou a dar plantões uma vez por semana em São Bernardo. Depois, duas vezes, até que a diretoria local sentiu a necessidade de ter um economista sempre por perto. Daí surgiu a primeira Subseção.
Barelli foi economista do Dieese, deputado federal e ministro do Trabalho
Inflação - Fato marcante da sua trajetória foi consolidar a imagem do Dieese, em todo o País, com forte visibilidade na imprensa. Até hoje, as pesquisas de Emprego e Desemprego, da Cesta Básica e do Custo de Vida - ICV Dieese - são adotadas pelos economistas e desfrutam de grande credibilidade.
Constituição - Professor Walter Barelli e outros técnicos do Dieese tiveram atuação destacada na Assembleia Nacional Constituinte (final dos anos 80), quando deram suporte às propostas da classe trabalhadora e do sindicalismo. Anos depois, em depoimento sobre aquele período, Barelli contou: “Muita coisa que aconteceu na Constituição foi por causa do Dieese. Nós conseguimos colocar muita coisa na agenda política nacional. É possível um órgão pequeno colocar seu tijolinho numa grande construção. E o Dieese não colocou um, colocou vários tijolos.”
Ditadura - Walter Barelli ganhou fama nacional, em 1977, quando, apoiado em estudos técnicos, o Dieese provou que o governo militar manipulava a inflação, arrochando os salários. O escândalo impulsionou as lutas sindicais. Os trabalhadores se encheram de brios para buscar a reposição das perdas, o Dieese deu suporte às entidades e o sindicalismo abriu uma frente ampla de lutas para repor nos salários o que a inflação havia comido.
Prisão - Barelli chegou a ser preso em 1979, primeiro ano do governo Figueiredo, o último dos presidentes-generais. Numa visita de Figueiredo a São Paulo, pra tentar garantir que não houvesse protestos, os órgãos de segurança passaram a “recolher” pessoas. Barelli passeava perto de casa de bicicleta, sem camisa, quando foi levado para o Dops. Foi liberado logo depois, devido a fortes pressões sociais.
Filho de um mecânico e de uma operária têxtil, Walter Barelli deixou três filhos: Suzana, Pedro e Paulo. No sindicalismo, deixa uma legião de admiradores. Em nosso Sindicato, Barelli é um mito, em reconhecimento à sua luta incessante em prol dos trabalhadores e em homenagem ao seu caráter.
Presidentes - Três de nossos diretores já presidiram o Dieese. São eles: José Pereira dos Santos, José Dilton Braga da Silva (Vanuza) e Josinaldo José de Barros (Cabeça). Nosso Sindicato mantém, desde 1990, subsecção do Dieese em nossa sede. Hoje, o economista é Rodolfo Viana. Pereira comenta: “Barelli reunia honestidade, competência e profissionalismo. Fará falta ao Brasil conturbado dos dias atuais”.
Mais informações – https://www.dieese.org.br/