• 24/6/2020 - quarta-feira
Brizola, o mito
Imagine um menino que vê o pai ser assassinado quando nem tinha dois anos de idade. Imagine esse menino, com mãe e cinco irmãos também pequenos, ter que sobreviver em pequena gleba rural, tirando sustento da terra e das pequenas criações.
Esse menino teve que sair cedo pra ganhar a vida. Foi engraxate, foi empregado doméstico, foi limpador de praças, foi carregador de malas em hotel, foi metalúrgico. E um dia, graças a seus esforços, se formou engenheiro.
Imagine décadas depois que esse brasileiro já havia sido governador três vezes, em dois Estados diferentes. E seria o maior construtor de escolas da história. Só Rio Grande do Sul, nos anos 50, ele construiu, na zona rural e na urbana, 6.310 unidades escolares.
Esse personagem nasceu em 22 de janeiro de 1922 e nos deixou em 21 de junho de 2004. Seu nome é Leonel de Moura Brizola. Era trabalhista, nacionalista e desenvolvimentista. No Rio de Janeiro, apoiado por Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro, construiu 500 grandes escolas - os Cieps. Em seu primeiro governo, empenhou 54% do orçamento público em Educação. Quando diziam que investir em Educação custava caro, respondia: - Mais cara é a ignorância.
Outra qualidade de Brizola era a coragem. Quando governou o Rio Grande, precisava de energia elétrica e telefonia ágil pra industrializar o Estado. Ante a falta de colaboração das multinacionais norte-americanas, ele encampou duas empresas, transformando-as em sociedade de economia mista.
Tal coragem teve seu ápice em 1961, quando comandou a Cadeia da Legalidade, um pool de 300 emissoras de rádio em todo o País, engajadas na garantia da posse ao vice-presidente Jango, uma vez que Jânio Quadros havia renunciado. À frente dos microfones e de metralhadora na mão, fez cumprir a Constituição e dar posse ao vice.
Quanto retornou do exílio, entusiasmado em volta o PTB getulista, viu seu sonho torpedeado pelo general Golbery do Couto e Silva, que lhe tirou das mãos o partido. Brizola, então, fundou o PDT, partido pelo qual se elegeu governador do Rio por dois mandatos.
Seu governo, marcados por gestões rigorosas e muitas realizações educacionais e estratégicas, foram perseguidas dia e noite pela Rede Globo. Mas Brizola era limpo, enfrentava a Globo de peito aberto e a emissora, jamais, teve a ousadia de insinuar um ilícito do governador.
Neste tempos em que incautos tratam por mito um político de segunda classe, vale relembrar Leonel Brizola, que tanto fez pelo Brasil e cujo amor pelas crianças ficou demonstrado nas milhares de escolas que plantou em solo gaúcho e carioca.
Mitos são Tiradentes, Rondon, Getúlio, Brizola. Estes, sim. Mito é o brasileiro honesto, que trabalha muito, ganha mal, sustenta sua família e carrega nas costas esse enorme e injusto País.
José Pereira dos Santos - Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
e secretário nacional de Formação da Força Sindical
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