Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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9/12/2022 - sexta-feira



Antonio Augusto: uma vida marcada por lutas,
conquistas e a fundação do Sindicato

A grande maioria dos metalúrgicos de nossa base tem um apelido (Cabeça, Chorão, Salsicha, Zóião, Jau,Pepe, Fala Mansa, Carioca, Tieta são alguns deles). Mas, nas fábricas por onde passou, Antonio Augusto de Jesus tinha três – Abelha (por ter vendido mel antes de ser metalúrgico), Coroinha (por ser católico fervoroso e ter militado na Ação Católica Operária) e Português (por ter convivido, por muito tempo, com a colônia portuguesa em Guarulhos e ter adquirido o sotaque lusitano, presente até os dias de hoje).

Aliás, este último apelido quase o impediu de ser diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região, em 1977, quando ele foi indicado pelos companheiros da Phillips do Brasil, para assumir o cargo na entidade.

“Mas você não pode participar. Você é português”, lhe falou o sisudo presidente, na época, Arnaldo Rodrigues Paixão. Não bastou apenas dizer-lhe que se tratava de um apelido, Antonio Augusto teve que mostrar sua certidão de nascimento lavrada em Guarulhos.

Mas, a história deste metalúrgico - nascido no dia 23 de abril de 1946 - com o Sindicato, começou muito antes deste episódio.


Antonio Augusto em entrevista na sede do Sindicato

PRIMEIRA GREVE
- Com 13 anos de idade, após autorização do Juizado de Menores pra retirar sua Carteira de Trabalho, Antonio Augusto conseguiu emprego como aprendiz de serralheiro, na montagem de fechaduras e dobradiças, na Metalúrgica La Fonte, em Santana, zona norte de SP.

Ganharia meio salário mínimo – na época, o salário mínimo era de Cr$ 6.000,00. Mas como batia todas as metas, principalmente por conta da construção de Brasília que consumia grande parte da produção da fábrica, ele causou ciumeira nos colegas e alerta nos patrões, que resolveram acabar com o prêmio de produção de todos os trabalhadores.

Resultado: os mais de 1.000 operários pararam a fábrica. Antonio Augusto relembra: “Foi a primeira greve que participei”. Encerrado o movimento grevista, muitos trabalhadores foram demitidos, inclusive ele.

Já sendo um congregado mariano e militante da Ação Católica Operária, foi orientado pelo movimento de trabalhadores católicos a ajudar a organizar os companheiros em Guarulhos, que faziam parte da base territorial do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

ASSEMBLEIAS -
A subsede em Guarulhos tinha muita dificuldade de repassar os informes que vinham da capital aos trabalhadores da cidade, por conta da distância e problemas de comunicação, diz Antonio Augusto.

“O primeiro telefone da subsede era 490137. Quando a gente precisava falar com o Sindicato tinha que ligar para a telefonista, pedir a ligação e esperar que ela retornasse. A gente se sentia órfãos e para mobilizar a base era complicado”, observa.

FILIAÇÃO - Na época, conforme conta, além do movimento católico, agia fortemente na subsede o Partido Comunista Brasileiro (PCB). “A gente não se dava muito bem”, afirma sorrindo. No dia 1º de outubro de 1962, Antonio Augusto assinou sua ficha de filiação.

Sob a coordenação do Partidão, teve início a mobilização pra fundação do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos. A primeira assembleia com este intuito aconteceu no final de 1962, no “Guarulhão”, antiga danceteria da cidade, que funcionava no Centro da cidade.


Assembleia de dissídio coletivo na antiga sede

BASE – A base dos metalúrgicos em Guarulhos tinha cerca de 21 mil trabalhadores e para criar o sindicato eram necessários 2.100 associados, no mínimo, ou 10% da base, conforme legislação da época. Teve início ampla campanha de filiação.

Com o número atingido, foi dada entrada na documentação em janeiro de 1963. Em 30 de abril, o Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região foi fundado.

FUNDADOR BARRADO – Em setembro daquele ano foi realizada assembleia pra discutir o primeiro dissídio da categoria em Guarulhos. “Cheguei ao local com outros companheiros e fomos barrados com o argumento de que não éramos sócios, justamente os companheiros que não eram do Partidão, mas militantes da Igreja”, conta.

A confusão estava formada. O presidente José Mathias reuniu o grupo. Antonio Augusto lembra: “Mathias disse que ocorreu um erro, mas não acreditei muito. Na ocasião, disse ainda que nos daria o número de matrícula. Mas no livro, a gente constaria como anteriores à fundação do Sindicato, pois tínhamos nos associados antes para podermos fundar a entidade. Por isso que minha matrícula é 1.299”.

Como diretor do Sindicato, Antonio Augusto permaneceu entre 1975 e 1992.

Piquete e confronto na porta da Mannesmann em plena ditadura

Entre as inúmeras greves que Antonio Augusto participou na sua história de sindicalista, a de 1981 ainda marca sua vida. Seu poder de oratória sempre foi reconhecido pela categoria. Por isso, ele ficou responsável por um piquete de cerca de 3 mil companheiros na “Greve das Diretas”.

“Nosso piquete saiu da porta da Cindumel, em Itapegica. Passamos pela Borlem e Microlit. E o movimento só engrossava o número de participantes. O pessoal não dispersava e estava consciente que a situação do Brasil só iria mudar se houvesse mobilização”, conta.

Os trabalhadores pararam na porta da Mannesmann (Parque Cecap). A empresa não queria liberar os funcionários. Houve resistência e a Polícia Militar chegou a local com caminhões. “Já éramos uma multidão de trabalhadores. O comandante Coura desceu de um fusquinha e fez o gesto de ‘desce o pau’. Começou o tumulto”, relembra emocionado.


Fala durante assembleia na Phillips. Greve durou 12 dias

MORTE - Os operários se armaram com pedras. Os policiais desceram o pau com cassetetes. Antonio Augusto tentavam controlar os companheiros no gogó. Muitos não conseguiam ouvi-lo. Até que o pior aconteceu: um militar passou mal, infartou no meio da rua e morreu. “A repressão aumentou. Centenas de trabalhadores ficaram feridos, estropiados. Mas conseguimos evitar um massacre”, disse.


Trechos da entrevista

INFÂNCIA – “Sou de família de lavradores. Na chácara onde morava, na Vila Galvão, nem televisão tinha. Era uma diversão com os irmãos subindo nas árvores, correndo no meio da plantação”, lembra. Antonio Augusto é o segundo de 11 irmãos.

TRABALHO – Até os 12 anos, trabalhava com o irmão mais velho vendendo verduras e flores no Mercado Municipal do Tatuapé, na zona leste de SP. Depois foi vender frutas em um carrinho ao lado da Igreja de Santana, em Santana, zona norte, onde havia a Metalúrgica La Fonte, seu primeiro emprego em fábrica.

LUTO –
Quando tinha 16 anos, o pai morre. Ajudou a criar os irmãos já trabalhando em metalúrgica. Era também militante da Ação Católica Operária.

DITADURA – Escapou de ser morto pelos militares em, ao menos, três ocasiões. Chegou a ser preso, mas como era ativista católico e considerado “mediador”, não demorou muito na cadeia.

Conta que na sua ficha do Dops está escrito em letras garrafais: “CATÓLICO PRATICANTE”.

ANISTIA – “Briguei, juntamente com todo o Sindicato, para que os exilados voltassem ao Brasil. Foi uma luta dura”.

DIRETORIA – “Conseguimos estruturar o Sindicato. Hoje, quando vejo esta sede, é um mergulho no passado. Fiz parte da comissão de compras da antiga sede. Tudo aqui foi comprado com o dinheiro dos metalúrgicos de Guarulhos”.

COLÔNIA DE FÉRIAS – “No final dos anos 1970, muitos sindicatos tinham área em Praia Grande, no Litoral Sul de SP. Também fomos reivindicar uma área ao governador Paulo Egydio Martins, que viu a possibilidade de incentivar o turismo no Litoral Norte. E nos ofereceu a área em Caraguá que, a princípio, era um presente de grego, pois na verdade era um grande brejo”.

CONSTRUÇÃO – “Não esmorecemos. Começamos a construir nossa Colônia de Férias. Cheguei a ir à Colônia três vezes em um só dia, em cima de um caminhão Mercedes 1111, descendo toda a mobília. Isso em 1977”.

CONQUISTAS –
“Em 1978/1979, o Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos já tinha convenções coletivas muito respeitada, embasadas com direitos assegurados aos trabalhadores. Nossas convenções sempre eram requisitadas por outros sindicatos”.

FUTURO – “Se não tomarmos cuidado, o extremismo de direita pode voltar ao mundo. O povo, na sua maioria, lamentavelmente, tem a mente curta. Não podemos esquecer o passado, o que sofremos com a ditadura militar”.



Jornalista Gil Campos entrevista Antonio Augusto

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