PERSONAGEM DO MÊS
Vulcão de ideias e ações
Em 1855, o poeta norte-americano Walt Whitman escreveu um verso que diz: “Sou amplo/contenho multidões”.
Se ele tivesse conhecido o jornalista Sérgio Gomes, o “Sergião da Oboré”, Whitman veria que existe um outro homem para o qual seu verso se aplica inteiramente.
Aos 73 para 74 anos, jornalista, membro do Partidão, ex-preso político na ditadura, Sergião tornou-se um ícone. Uma referência para quem milita na comunicação sindical, no front democrático e nas ações progressistas.
Sergião e assessor João Franzin |
Frases - Vulcão ininterrupto, homem capaz de ao mesmo tempo pensar e agir, Sérgião também é conhecido por suas tiradas criativas e geniais. Por exemplo: “Temos que fincar o bambu pelo lado grosso”. Outra: “A língua sempre bate no nervo que dói”. Terceira: “O cipeiro deve ser cipista - ou seja, cipeiro e sindicalista”.
Pai de Lígia, advogada, de Paulinho, artista performático, e casado com a jornalista e pesquisado Ana Luiza, Sérgião conta que nasceu no Bom Retiro, mudando-se ainda pequeno para o Brooklin. Hoje, mora na casa onde viveu na infância.
Durante dois períodos, Sergião e a Oboré (criada por ele, Laerte, João Guilherme Vargas Netto e outros) prestaram serviço de comunicação e planejamento para nosso Sindicato, épocas de Edmilson e Chicão na presidência.
A história da Oboré, composta por 12 diretores do Dieese e 12 pessoas ligadas à intelectualidade, é uma história que ainda precisa ser contada. João Franzin, nosso assessor de imprensa, diz: “Do que sei, muito ou pouco, devo aos anos de convívio com a Oboré”.
Mas a Oboré ainda existe, 45 anos depois de formada. Não mais ligada ao sindicalismo, mas se voltando especialmente para projetos e ações ligadas aos direitos humanos.
Sérgião, Laerte e o saudoso Audálio Dantas no aniversário de 85 anos de Audálio
Oboré vem de Boré, uma espécie de apito que os índios tocam na taba para reunir a tribo. Sérgião diz a respeito da imprensa sindical: “É comunicação em legítima defesa de nós mesmos, da tribo. No caso, a classe trabalhadora”.
Incansável, Sérgio Gomes, com Ana Luiza, toca há anos o projeto “Repórter do Futuro”, que visa formar profissionais com o pé na realidade da cidade, do País e do mundo. O prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos tem as mãos e a cabeça de Sérgião, que ajudou a tornar o evento um grande feito de resistência democrática em nosso País.
Sérgião é referência na imprensa |
Têxteis, Metalúrgicos, Químicos, Borracheiros, Eletricitários, Rurais - o número de categorias para quem Sergião e seus companheiros prestaram serviços é imenso. Nessas entidades, formaram Departamentos de Comunicação e forjaram quadros para a imprensa dos trabalhadores.
Praia - Durante cerca de 15 anos, Sérgio Gomes, Marise Egger e outros companheiros trabalharam para limpar a cidade de Praia Grande. Sérgião conta: “Na temporada, o balneário atraía cerca de 1,5 milhão de trabalhadores. Mas, quando maré baixava, se via que a Praia estava literalmente na merda, suja, fedida e transmitindo doenças aos banhistas”.
Entre as atividades desenvolvidas, estão a ligação da rede de esgotos, a inauguração da estação de tratamento e a construção de um longo emissário submarino. Sérgio Gomes conta: “Foi no governo Itamar Franco, graças principalmente ao apoio do então ministro do Trabalho Walter Barelli, que conseguimos recursos pra concluir a obra”. Aliás, recursos do BNH, que era mantido com as verbas do FGTS. Sérgião arremata: “A praia dos trabalhadores foi saneada com dinheiro dos próprios trabalhadores”.
Sérgião foi preso na ditadura | |||
Vulcânico, e, para usar um outro termo caro a Whitman, pletórico, o jornalista cita nomes, datas, dados, valores, livros, autores e até o violeiro Renato Andrade, em quem se inspira para, de certa forma, contar como se transferiu da grande mídia comercial para a imprensa dos trabalhadores. Ele diz: “Adaptei as técnicas do violino para a viola caipira”.
Mundo real - Sérgião é um ardoroso defensor da qualidade da ação sindical e de seus serviços às categorias. Ele diz: “Olhe pra todos os lados. Tudo o que existe foi feito pelos trabalhadores. Por que, então, essas pessoas não merecem casa boa, comida de qualidade, roupa bonita, arte e cultura?”
Trabalho - O trabalho real tem começo, meio e fim, sempre. Mas, em comunicação, temos que fazer o simples, o que é real e perceber o que está latente e ainda não aflorou.
Generosidade - Os amigos, tantos, são unânimes: além do talento e da capacidade de pensar e realizar, outra qualidade de Sérgio Gomes é a generosidade. Seu desapego material é famoso. Sua disposição em ajudar é antológica. Sua fidelidade aos amigos é histórica.
Líder – Meses atrás, nosso Sindicato promoveu um Curso de Liderança com o professor Clay Lopes. Sérgio Gomes define quem é líder dentro de uma fábrica. Ele diz: É o sujeito pontual, competente e que tem coragem.
Longa vida ao Sérgião da Oboré, do PCB, do Repórter do Futuro, do Prêmio Audálio Dantas e de outras inumeráveis realizações. Não estamos diante de um homem. Sinceramente, o camarada é uma multidão!
Guarulhos, 1º de agosto de 2023.
Sérgio Gomes ajudou a tornar prêmio Vladimir Herzog resistência democrática no País