Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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/9/2023 - sexta-feira


A vida de todo homem dá um livro. A vida de Carlos Aparício Clemente, de 67 anos, daria vários livros. 

Metalúrgico de Osasco, ele, desde bem jovem,  entrou para a direção sindical da categoria, onde atuou durante anos. Na entidade, o sindicalista se destacou, nacionalmente, pelo firme combate aos acidentes de trabalho, pela luta por Cipas atuantes e por denunciar acidentes escabrosos, decisões judiciais absurdas e as más condições de trabalho.

Anos mais tarde, sobretudo a partir de 2001, Clemente passou a se dedicar a outra causa, não menos desafiadora, ou seja, a inclusão no mercado de trabalho para Pessoas com Deficiência (PcD), para que as empresas cumpram a Lei de Cotas - 8.213/91.



Sindicato - Carlos Aparício Clemente, pai de dois filhos e hoje com várias formações e especializações de nível universitário, afirma: “Nada do que fiz e faço teria sido possível sem apoio do meu Sindicato. Os diversos presidentes e as diferentes formações da nossa diretoria sempre entenderam a importância dessas lutas. Sou muito grato por esse apoio”.

A Lei de Cotas estabelece contratações de acordo o número de funcionários. Assim: de 100 a 200 empregados, a reserva legal é de 2%; de 201 a 500, de 3%; de 501 a 1.000, de 4%. Empresas com mais de 1.001 empregados devem reservar 5% das vagas para esse grupo.

Mas essas cotas não têm sido cumpridas na imensa totalidade das empresas. Por quê? Clemente explica: “Ainda tem muito preconceito e quem vai contratar acha que a pessoa deficiente não terá capacidade pra dar conta das tarefas”. Outro motivo que ele aponta é o fato da imensa legião de pessoas com deficiência brasileiras não saber desse direito.

O ex-dirigente informa que, “de cada vaga preenchida por uma pessoa deficiente, restam outras 10 pessoas esperando”. Segundo informa o histórico ativista da inclusão, “o Brasil tem perto de 18 milhões de pessoas com deficiência”. A disparidade é gritante, alerta, pois, “o número de contratações atualmente está por volta de 530 mil pessoas, o que significa pouco mais de 1,1% das ocupações no mercado formal”. 


Desculpa - No setor fabril, lamenta Clemente, ainda hoje tem muita saída pela tangente: “O empresário diz que até queria contratar, mas, sabe como é, o ambiente tem risco e eu não queria expor essas pessoas”. O fundador e coordenador do Espaço da Cidadania, em Osasco, diz que a realidade desmente esse tipo de argumento. “A contratação para a função adequada quase não gera risco. Além do que boa parte das pessoas com deficiência tem formação básica completa e muitos contam com formação universitária”, observa.



Ainda hoje no sindicalismo, quando se fala em combate a acidentes, todos se lembram “do Clemente de Osasco”. Mas ele há mais de 20 anos não se dedica diretamente à questão. De todo modo, não tem faltado a debates e ciclos relativos à questão. Recentemente, participou de encontro na Fundacentro em São Paulo, da qual participou seu próprio presidente, Pedro Tourinho.

Carlos Aparício Clemente destaca a questão humana das vítimas de acidentes. “Quando a pessoa morre, acontece aquela consternação, e depois cada um segue seu rumo. Mas as sequelas do acidente são pra vida toda. Conheço um senhor, hoje aos 82 anos, que se acidentou quando tinha 29”, conta. Muitos acidentados, principalmente quando sofrem lesões graves, “precisam entrar na Justiça pra obter a prótese adequada”.


Secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Anna Paula Feminella, participa do 32° aniversário da lei de cotas

APAE - Uma das profissões exercidas por Clemente foi no controle de qualidade. E é desse setor que ele cita uma história interessante - numa empresa de Osasco, que fazia peças para a Honda, fabricante de motos. Na fase final da produção, havia sempre problemas com o acabamento do produto. Pois um funcionário com síndrome de Down conseguiu detectar a causa e pôs fim ao problema. O próprio dono da empresa passou a ir a palestras para dar seu depoimento.

Outro bom exemplo vem do Grupo Assaí, do ramo de supermercados. Hoje a empresa, diz Clemente, só inaugura uma nova unidade se a lei de cotas (8.213/91) estiver completamente atendida.

Se há os bons, existem também os maus exemplos. Um deles vem do Bradesco. O banco, alegando um modelo próprio de contratação e plano de carreiras, não tinha funcionário conforme a Lei de Cotas. Precisou tomar multa pesada pela então Subdelegacia Regional do Trabalho de Osasco, em outubro de 2003, pra se enquadrar e começar a cumprir os ditames legais.

Nessas suas frentes de batalha, além do Sindicato dos Metalúrgicos dos Metalúrgicos de Osasco, Clemente cita um grande número de aliados, que vão de Sindicatos, especialistas em inclusão, jornalistas, chargistas até autoridades do Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho (MPT). Esse esforço coletivo tem produzido, ao longo dos anos fóruns de debates, ciclos e gerado publicações diversas. Nesta semana, ainda, ele esteve no Tribunal Regional do Trabalho do Paraná, em Curitiba, para participar de um Seminário organizado por um magistrado cego. 

Renovação - Do alto de sua experiência, tanto no que diz respeito aos acidentes, quanto à questão da inclusão no mercado de pessoas com deficiência, Clemente chama atenção do governo para a necessidade de contratar mais Servidores e Auditores Fiscais. “Muitos dos que dedicaram por décadas a essas questões se aposentaram ou estão em vias de requerer aposentadoria. É preciso, além de contratar, qualificar os que vão chegar”, ele alerta.

Clemente saúda a mudança de ares trazida pelo governo Lula. Porém, orienta que as ações precisam ser mais focadas. “O governo tem claramente um compromisso com a inclusão de pessoas. Precisa, no entanto, cuidar mais de perto da inclusão no mercado das pessoas com deficiência”.

Cipas - Josinaldo José de Barros (Cabeça), presidente de nosso Sindicato, tem estimulado a formação de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, e a diretoria está atenta às eleições e ao suporte aos cipeiros. Clemente é de opinião de que esse tema precisa ser abraçado pelo conjunto do sindicalismo, na prevenção, no combate e mesmo na cobrança de atitudes pelas autoridades e órgãos do Estado. Há cerca de um ano, a empresa Multiteiner foi palco de um acidentes no qual morreram nove pessoas e 32 ficaram feridas. Carlos Clemente põe o dedo na ferida: “Quando a gente olha mais de perto vê que o governo e a própria Petrobras continuam comprando dessa empresa e fazendo vistas grossas para a tragédia. Isso não poderia acontecer”.

MAIS - Espaço da Cidadania - www.ecidadania.org.br

SindMetal Osasco - www.sindmetal.org.br

Fundacentro - www.gov.br/fundacentro
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