19/11/2023 - domingo
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Magri, esse homem tem história
Personagem deste mês e final de ano é Antônio Rogério Magri, metalúrgico, eletricitário, ministro, consultor sindical e personagem central no sindicalismo brasileiro nos últimos 50 anos. Magri é consultor de nosso Sindicato há mais de duas décadas, onde atua com seu reconhecido senso prático, sua simpatia e, principalmente, simplicidade.
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LIVRO
Está faltando uma biografia no sindicalismo brasileiro. Terra de grandes dirigentes, como Riani, Tenorinho, Joaquinzão, Audálio, Hugo Perez e o próprio Lula, faz falta um livro que narre a vida e as realizações de Antonio Rogério Magri.
Ativo, com grande vivacidade e capacidade de trabalho, ele chega aos 83 anos na condição de importante consultor sindical e, de novo, dirigente - não mais eletricitário, mas na educação física, onde sempre atuou, desde início da adolescência.
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Este texto não é uma biografia, fique claro. Trata-se um fazer um perfil, de realçar alguns aspectos desse descendente de italianos que um dia também foi metalúrgico, foi ministro do Trabalho e da Previdência, retornando depois à empresa Ligth, “vestindo de novo o macacão operário”, como se orgulha em lembrar.
Vale registrar que Magri, há mais de duas décadas, é consultor de nosso Sindicato, com atuação em momentos decisivos, como na duríssima eleição em 2005, em importantes mobilizações da categoria, cursos de formação de diretores e tratativas no interior da Força Sindical.
O METALÚRGICO
Nascido no bairro paulistano do Cambuci, foi ali mesmo que ele começou a trabalhar, na produção da Metalúrgica Atlanti S/A, empresa, ele lembra, “que fabricava cadeiras e outros apetrechos pra gabinetes dentários”. O ano era 1961.
O Cambuci estava mesmo marcado no destino do rapaz que, de tão forte, ganhou o apelido de Hércules, o herói que os antigos gregos consideravam o mais forte entre os mortais. Magri, nos melhores tempos, rasgava lista telefônica e voava em seus golpes marciais.
No mesmo bairro ficava a principal unidade da Light, a gigante de energia elétrica. Foi lá que Antonio Rogério Magri se firmou como profissional e despontou para o sindicalismo.
Magri chegou a diretor e depois presidiu o Sindicato dos Eletricitários do Estado de São Paulo, fundou e presidiu a CGT - Central Geral dos Trabalhadores, também articulou na formação da Força Sindical e atuou em importantes momentos para a criação e consolidação da UGT, à qual seu Sindicato hoje é filiado.
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Durante as últimas cinco ou seis décadas, Antônio Rogério Magri foi agente ativo no sindicalismo nacional. Também ocupou o Ministério do Trabalho e Previdência Social, deixando um legado altamente positivo.
Magri lembra: “Minha gestão conseguiu aposentar 8 milhões de rurais, que passaram a ter direito a um salário mínimo, ainda que nem tivessem recolhido à Previdência. Ganhavam meio mínimo, passaram a um salário mínimo e tiveram aumento de 147%, vindo a ganhar praticamente dois salários mínimos”.
Também legou benefício semelhante aos pescadores artesanais, que durante os meses de piracema ficavam sem renda. Trata-se do seguro defeso, de um salário mínimo.
Mas ninguém é ministro a vida toda. Ao sair da Pasta do Trabalho e Previdência, Antonio Rogério Magri retornou à Light, ao setor de manutenção, onde começara a carreira. “Tornei a vestir macacão, retomei a função de contramestre, voltei a serrar ferro”, relembra. Ficou na empresa até 1995, quando se aposentou.
Pai de dois filhos, Cristina e Douglas, e casado com Isabel desde muito jovem, Magri mantém impressionante forma física. Parte dessa força ele atribui a seu modo de vida regrado e à maneira como vê o mundo. “Faça o simples, seja simples e você será feliz”, recomenda.
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CONCLAT, CONSTITUINTE E MUITO MAIS...
Não tem como contar a história sindical brasileira desses mais de 50 anos sem direcionar os holofotes à figura altiva de Magri.
Conclat - 1981. Em plena ditadura. Magri lembra que por meio do ICT (Instituto Cultural do Trabalho), que presidia, bancou todo o alojamento. Relembra: “Saí da Praia Grande e subi a Serra até São Paulo pra comprar mais três mil colchões”.
E a comida? Pois bem. Ele foi falar com o então governador Paulo Maluf, que mandou deslocar os caminhões da Eletropaulo, durante todos os dias da Conclat, levando café da manhã, almoço e jantar aos quase cinco mil delegados sindicais.
Faixa-preta de judô, Antonio Rogério Magri soube usar muito mais que a força pra obter conquistas. Uma delas, o Adicional de Periculosidade aos eletricitários, de 30%. “A greve estava pronta e paralisaria o País. Aí eu fui negociar com o general linha-dura Milton Tavares, que comandava o III Exército. Ele pediu uma trégua, prometendo Lei junto ao Congresso Nacional”. Não houve greve, mas os mais de 20 mil eletricitários passaram a receber o Adicional, abrindo a porta da conquista a outras categorias.
E no movimento Diretas-já contra a ditadura? Pois bem. Magri estava lá e foi um dos oradores no histórico comício no Vale do Anhangabaú, Centro de São Paulo.
Magri também atuou fortemente durante a Assembleia Nacional Constituinte. Recorda que, acompanhado do líder metalúrgico Antônio Luiz de Medeiros, negociou grandes avanços. Ele conta: “Foram muitas as negociações com Guilherme Afif e Robertão Cardoso Alves, ambos conservadores. Mas saímos desses encontros com o aumento da multa sobre o FGTS, de 10% pra 40%, quando a empresa demite. Também ampliamos a licença-maternidade de 84 pra 120 dias”. Direitos que estão até hoje na Constituição.
Hábil no diálogo e na arte de negociar, o paulistano do Cambuci faz jus à fama do herói grego, Hércules. Numa greve dura na usina da Light em Cubatão, ele tomou o volante do caminhão do guincho, estacionou o veículo na entrada e de lá ninguém saiu, ninguém entrou, até a vitória do movimento, garantindo a moradia a 120 famílias. Em disputas eleitorais pesadas, Magri sempre foi visto na linha de frente dos embates.
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Aos 83 anos, Toni, como era conhecido nas ruas do Cambuci, diz: “Deito e durmo tranquilo. Deus me deu muito mais do que mereço”. Entre os feitos de sua vida, lembra encontros com figuras do porte do Papa João Paulo II, Fidel Castro e a Princesa Dayane. Relata: “Ouvi da boca do próprio Fidel como foi a chegada dos guerrilheiros da Sierra Maestra, coroando a revolução cubana”.
NOSSO SINDICATO
Seus contatos com a categoria começaram ainda na época do presidente Chicão (Francisco Cardoso Filho, hoje com 92 anos). Magri mostra-se feliz em poder participar da vida de um Sindicato combativo. Ele diz: “Aqui, sempre fui tratado com muito respeito e carinho pelas diretorias e funcionários da casa. Minhas opiniões e análises sempre foram levadas em consideração”.
Um conselho do sindicalista vivido, cristão fervoroso, palmeirense-raiz e operário da Light? - “Façam tudo com simplicidade, olho no olho com o trabalhador. O dirigente fiel às origens presta um serviço melhor à sua categoria e impõe respeito ao patrão”.
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LIVRO E DICIONÁRIO
Quem sabe este perfil não anime o companheiro a publicar um livro sobre sua vida, suas lutas, sua experiência: tomara!
Por falar em livro, Magri talvez seja o único sindicalista do mundo que criou um verbete para o dicionário de seu País. No “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa” encontra-se o verbete “imexível”, consagrado quando o então ministro Magri afirmou: “O salário do trabalhador é imexível”.
Do Cambuci para o mundo, esse é o Magri!