Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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• 03/06/2024 - segunda-feira


Alan, um indígena engajado

Liderança indígena de Guarulhos, Alan Wassú, de 39 anos, tem um sonho: construir uma escola em sua aldeia, no Portal dos Gramados, próximo ao bairro Vila Rio de Janeiro. Hoje, a aldeia tem 18 habitantes, várias crianças. Ele diz: “Queremos mais educação para as nossas crianças, inclusive com professores indígenas. Precisamos reforçar nossa cultura, as tradições e a língua Tupi. Nunca tivemos apoio do Poder Público. Agora, vamos arregaçar as mangas e construir nossa própria escola”. E completa: “Com a escola, muitos dos Wassú que moram na região do Pimentas virão pra nossa aldeia”.

Para Alan Wassú, “é a partir da educação, indígena e não-indígena, que se constroem indivíduos bons, os verdadeiros cidadãos”.

Segundo o IBGE, 1.649 indígenas moram em Guarulhos. São 18 etnias. Acredita-se que este número está subestimado. Para Alan, o número de indígenas na terra dos Guaru é de 2.500. População indígena maior só na Capital, SP. 

Nosso personagem tem se destacado enquanto líder indígena. Alan é filho da cacica Irakanã, responsável pela organização e administração de aldeias da etnia Wassú (em Tupi quer dizer grande) em 18 cidades do Estado de São Paulo.


Origem - Alan nasceu na cidade Joaquim Gomes, no norte de Alagoas, berço do povo Wassú-Cocal. Ele foi batizado com o nome de Alan Ailton da Silva.

Os primeiros Wassú migraram para nosso Estado há 55 anos, após sangrenta disputa pelas suas terras em Alagoas. Em Guarulhos, chegaram há 29 anos. A aldeia no Portal dos Gramados foi criada em 2017, portanto há sete anos. A Prefeitura lhes ofereceu a gleba, mas não informou que no local havia funcionado um aterro sanitário. A tribo recebeu a promessa de legalização da área.

Ainda hoje, a limpeza da terra é constante, assim como a retirada de muito lixo. A legalização prometida não veio. Os indígenas já enfrentaram três processos de reintegração de posse. Já tiveram ocas queimadas e sofreram invasões na área. A luta agora está em Brasília. Também não sabem, com precisão, o tamanho da gleba ocupada.

O indígena lamenta: “Nós temos em Guarulhos uma das maiores populações indígenas do Estado de São Paulo. E o Poder Público nunca olhou pro nosso povo com o respeito merecido. Não há diálogo por parte do prefeito. Ele não se preocupa com nossa existência”.

Alan é pastor evangélico da Assembleia de Deus há 20 anos. Afora a dedicação religiosa, ele vê na política uma “grande arma” pra lutar contra os desmandos sofridos pelos povos indígenas em Guarulhos. O indígena é pré-candidato a vereador pelo Partido Democrático Trabalhista.


Novidade - “Em 463 anos, Guarulhos nunca teve uma candidatura indígena. Quero lutar contra a falta de políticas públicas que assistam nossos povos na cidade. Precisamos ocupar espaços para ter voz e nossos direitos garantidos como garante a Constituição Federal”, conta.

No dia a dia, ele continua a luta pela cultura de resistência. E afirma: “Onde tem indígena, existe vida das árvores, das aves, dos peixes, dos animais. Porque a gente respeita e cuida da natureza. A terra nos dá alimentos sem que seja preciso agredi-la”.

Principais pontos da entrevista:

Indígenas - “Temos a maior população indígena do Estado de São Paulo. E não temos o respeito do Poder Público. Precisamos ocupar espaços para ter voz e nossos direitos garantidos como assegura a Constituição de 1988”.

Legalização - “Continuamos lutando pela legalização da terra Wassú em Guarulhos. A Prefeitura prometeu a legalização, mas virou as costas pro nosso povo. Em 2021 sofremos dois ataques. Incendiaram nossas ocas após obtermos vitória em três processos de reintegração de posse”.

Brasil - “Nosso País nunca foi descoberto. Foi invadido em 1500. Naquela época havia cerca de cinco milhões de indígenas. Hoje só há 274 línguas indígenas no País, onde vivem 817.963 mil pessoas de 305 diferentes etnias”. 

PDT - “Meu partido é o PDT. Um partido histórico com a questão indígena. Por ele já passou o antropólogo Darcy Ribeiro, o ex-governador Leonel Brizola e Mário Juruna, o primeiro deputado federal indígena do nosso País”.

Educação - “Esta é minha maior bandeira de luta, tanto pro povo indígena como não-indígena. É vergonhoso, mas Guarulhos tem quatro mil crianças que não sabem ler o que está escrito na bandeira do Brasil”.

Natureza - “Precisamos, com urgência, preservar a água e a floresta do município de Guarulhos”.



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