Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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• 9/8/2024 - sexta-feira


Maria Rosângela Lopes é mulher negra e de luta

Ela é mulher negra de 67 anos, neta de escravos vindos de Moçambique e Angola, de religião de matriz afro, mãe de quatro filhos (um homem e três mulheres), avó de 11 netos e quatro bisnetos. Mora na zona rural de Santa Rita do Sapucaí, Sul de Minas. 

No movimento sindical, Maria Rosângela Lopes é responsável pela Secretaria da Mulher e Assuntos Relacionados à Igualdade de Gênero da CNTM - Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, e da Secretaria de Assuntos Raciais e Combate à Discriminação da Força Sindical Nacional.

Enfim, a vida de Maria Rosângela Lopes dá um livro. “Minha vida é como a vida de qualquer mulher negra, pobre, que sofreu preconceito, discriminação, mas que luta no dia a dia por todas as mulheres deste País”, diz com bom humor, sua marca registrada.

Infância - Rosângela é a segunda de 14 irmãos. Filha de mãe negra e pai branco. Ele, um pintor residencial que deixou Minas e sobreviveu durante anos oferecendo seu ofício na região central da Capital Paulista. 


Rosângela nasceu na Vila Mariana. A mãe era dona de casa, mas se viu obrigada a trabalhar como faxineira pra cuidar dos 14 filhos quando o chefe da família se afundou no alcoolismo e largou a profissão de pintor. A família retornou pra Minas. Ela lembra: “Meu pai sofreu por dez anos com o alcoolismo, foi muito triste pra todos nós”.

Bilac - Pra ajudar a mãe, Rosângela foi trabalhar de babá na casa de ricaços mineiros, principalmente desembargadores. Mas foi na casa dos descendentes do poeta Olavo Bilac, a família Delfim Moreira, que seu futuro começou a ser traçado.

A babá caiu nas graças da sobrinha-neta do poeta, Sinhá Moreira. Certo dia, ela falou pra Rosângela: “Você é muito esperta, inteligente. Mas precisa estudar”. Sinhá pagou seus estudos. Rosângela diz: “Eu era a única negra da escola”. Neste período, ela se aproximou do movimento estudantil.

Na casa de Sinhá, Rosângela gostava de ler os escritos de Bilac. Aprendeu nessa convivência que “é preciso ter o poder por meio do conhecimento”. Por outro lado, conheceu as agruras do Imperialismo. Do que é ser rico e do que é ser pobre.


Ditadura - Na época da Ditadura Militar sabia que a mulher não podia estar na rua após as 22 horas. Mas o que até hoje não sai da memória de Rosângela é o discurso do então presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, que estava na cidade pra inaugurar o Mercado de Alimentos.

Ela conta: “Foi um discurso marcante na minha vida. Me deixou sob terror. Aquele general, cheio de ‘bolsonaristas’ da época ao seu redor, dizia ao microfone: ‘Somos os donos do Brasil. Temos a chave da fechadura da porta principal do País. Esta chave está presa no meu cinto’. Neste instante, segurava a arma. Sai em pânico do comício”.

Casamento - Ainda adolescente, com 16 anos, resolve fugir para o Rio de Janeiro com um funcionário da Marinha do Brasil. Viveu com ele por 14 anos. 

Greve - Com o fim do casamento, foi pra Recife, Pernambuco, e acompanhou de perto a histórica greve da Reciferal, empresa fabricante de carroceria de ônibus. Depois, resolveu voltar pra casa da mãe no Sul de Minas. Na ocasião, o pai já era falecido.


Fábrica - Retornando, trabalhou numa indústria têxtil, até o fechamento. Depois, ingressou na indústria de transformação. Já organizava a luta das mulheres. Picada pelo movimento sindical, foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Santa Rita do Sapucaí, Conceição dos Ouros e Cachoeira de Minas e, também, presidente da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Estado de Minas Gerais.

Rebeca - Neste momento em que os olhos do Brasil estão voltados para os Jogos Olímpicos, em especial pra atuação da ginasta Rebeca Andrade, uma jovem preta, de origem pobre, nascida na periferia de Guarulhos, na Grande São Paulo, Rosângela comenta: “Quanto mulher preta, as conquistas de Rebeca é o ápice, trazendo esperança pra luta das mulheres”.

E finaliza: “Ela mostra que somos capazes de tudo graças à Educação. Nós cabemos em todos os lugares que existem no Planeta”.

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