Votar não basta

Muitos eleitores ainda escolhem candidatos a partir da campanha eleitoral de rádio e TV. Outros, principalmente pessoas com mais escolaridade, seguem a Internet, acompanham os debates na Internet ou mesmo interferem nas discussões por meio da rede. Sinal dos tempos.

Sou do tempo dos grandes comícios. Geralmente, o candidato reunia o povo na praça e dava seu recado de cima de uma carroceria de caminhão. Os mais ricos levavam artistas, como atração. Já os mais pobres iam no gogó mesmo ou batiam de casa em casa.

As formas mudam. Mas o conteúdo, que interessa, permanece. Até porque, o que se espera de um candidato? Que seja honesto, seja preparado, tenha posições claras e domine as regras da convivência política. Ou seja, entenda que ninguém governa sozinho e que, mesmo na Câmara de uma cidadezinha do sertão, é preciso dialogar e se compor com as forças sociais.

Em Guarulhos, a cada eleição proporcional, ocorre um velho problema, que é a enorme quantidade de votos a quem mal conhece a cidade ou que só passa aqui durante a campanha eleitoral. Passa, cata os votos e some. Penso que, nesta eleição, devemos votar em candidatos locais, especialmente no deputado estadual. Forasteiros que só aparecem em época de eleição não merecem nosso voto.

Muitos alegam que se vota errado no Brasil, que elegemos humoristas, boleiros ou oportunistas que se dizem contra tudo. É meia verdade. O que falta é formação política e informação. É fácil ser crítico quando se tem acesso a jornais e revistas, a debates tarde da noite na TV ou à Internet. Pra isso, é preciso tempo, dinheiro e pelo menos um microcomputador ou smartphone. Mas essa não é a condição geral de nosso povo.

Minha geração lutou contra a ditadura e pelo direito de votar. De lá para cá, tivemos muitos avanços. Exemplo emblemático é a Assembleia Constituinte, que nos legou a mais avançada das Constituições até agora. Graças à Constituição, conseguimos importantes avanços democráticos, legais e trabalhistas. Por quê? Porque, além de votar, a população se mobilizou e participou ativamente dos debates na Constituinte e pressionou.

A fórmula que valeu lá vale cá. Eu digo: conhecer, comparar, escolher e votar, tudo isso é importante. Não menos importante é acompanhar o trabalho do gestor público, o mandato do vereador, do deputado e do senador. Esse acompanhamento é uma espécie de controle de qualidade democrático. O eleito, qualquer que seja, precisa saber que está sendo acompanhado e fiscalizado. E que, a qualquer momento, poderá ser cobrado. Ou seja, só votar não basta. É preciso participar.

José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
E-mail: pereira@metalurgico.org.br
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Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje, dia 24 de setembro de 2014.