O que será de Guarulhos?
Josinaldo José de Barros (Cabeça) |
Sou do tempo em que as pessoas vinham pra Guarulhos a fim de trabalhar nas inúmeras fábricas locais. A cidade vivia seu auge industrial, reunindo imensa população operária, esperançosa também de aqui fincar raízes, constituir família e progredir.
Mas nem tudo era vento a favor para o operariado que se estabelecia. Ao contrário. Guarulhos crescia de forma desordenada. As carências eram gigantescas. Eu mesmo fui morar em barraco, sentindo na carne a condição de migrante pobre, sem apoio, sem amparo social, sem suporte de políticas públicas, a depender apenas da própria sorte ou da solidariedade de companheiros.
Dizer que Guarulhos não mudou, nem melhorou, seria injusto. Mas a verdade é que mudou mais devagar do que deveria, deixando de levar melhorias ao conjunto da população, principalmente ao povo mais pobre, na imensa periferia.
O esvaziamento industrial não é exclusivo de Guarulhos. A Capital também perdeu parte da pujança industrial e o próprio ABC – onde Lula despontou – só consegue manter suas montadoras à base de generoso apoio governamental às multinacionais. Mesmo apoio, porém, não se vê para a pequena empresa, especialmente a nacional.
Os dois governos Lula foram promissores para o Brasil, assim como o primeiro de Dilma. Depois, tudo se desorganizou, devido à crise internacional, à forte disputa política interna e a erros na política econômica. Um dos efeitos mais drásticos dessa crise é a desindustrialização. Por isso, nossa indústria acelera sua decadência frente ao PIB, demite, gera empregos de baixo valor agregado e deixa de ser propulsora do desenvolvimento. O setor mais dinâmico da economia nacional, agora, é o agronegócio.
Mas quero voltar a falar de Guarulhos, onde trabalho, vivo e atuo. E chamo atenção para a oportunidade que estamos perdendo de debater a cidade que queremos, visando reposicionar a indústria no centro da nossa estratégia de desenvolvimento. Esta eleição poderia ser o momento de se indicar caminhos para a retomada dessa vocação industrial.
Os trabalhadores querem fazer essa discussão, o sindicalismo – sempre que pode – debate e propõe alternativas e o empresariado produtivo ainda não desistiu de nossa cidade. Ou seja, não falta vontade às partes, não falta compromisso com a cidade, não falta disposição de trabalhar e empreender. Faltam, na verdade, propostas, projeto, discussão e diálogo franco.
Tenho 30 anos de Carteira assinada, 24 deles na Borlem (hoje Maxion); tenho uma vida profissional, de amizades e de ação sindical nessa fábrica do Itapegica e em toda base. Mas, digo, com tristeza, a empresa vai sair de Guarulhos até o final do ano, depois de 54 anos na cidade. Cito a Borlem, mas a fila é longa.
Alguns requisitos são básicos para uma Nação ser soberana. A indústria é o pilar principal. O mesmo vale para uma cidade grande, com o histórico de Guarulhos. Perder potência industrial pode ser fatal. Sem políticas públicas locais efetivas, sem articulação com o governo do Estado, sem entrosamento com o governo federal, temo pelo nosso futuro. Sem essa base, as pessoas investem e se viram no segmento de serviços, que paga abaixo da indústria e do comércio, não gera tecnologia e não agrega valor.
Não quero ser pessimista. Mas me sinto no dever de fazer essa reflexão.
Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje, dia 26 de outubro de 2016.