Brasil perde tempo e posições
Em curtíssimo tempo, o Brasil pode perder cinco mil engenheiros. Nosso setor naval hoje emprega apenas metade dos trabalhadores de antes e essa quantidade pode ser cortada em mais 50%, levando o segmento à completa desestruturação.
A perda na engenharia não se restringe aos cortes nos postos de trabalho. O que já seria grave. Perder engenheiros significa empobrecer o mercado de trabalho e caminhar para a rabeira do desenvolvimento, porque a engenharia é fundamental para o crescimento econômico e autonomia tecnológica de qualquer país.
Alguma coisa de muito grave está acontecendo com a indústria brasileira. E não só quanto aos setores produtivos, que perdem espaço na economia e veem o capital estrangeiro ocupar o seu lugar. Essa crise atinge, também, de forma brutal nossa mão de obra.
A Folha de S.Paulo do dia 27 – página A-16 – traz a seguinte manchete: “Brasileiro ganha menos que trabalhador chinês”. A matéria, extraída do insuspeito Financial Times, informa que “o salário médio pago pela indústria chinesa já supera os valores pagos aos trabalhadores de países como o Brasil”. Ou seja, o que parecia impossível aconteceu: operário chinês já ganha mais que o brasileiro.
Com isso, a China – tão criticada pelos falsos sábios neoliberais – faz o movimento inverso ao do Brasil. Ou seja, desenvolve sua indústria e eleva os salários dos seus trabalhadores. A consequência é elementar: a China quer ampliar e fortalecer seu mercado interno, para que os produtos chineses sejam consumidos cada vez mais pelo próprio povo chinês e pelos seus trabalhadores.
Na mesma Folha de S.Paulo, no mesmo dia 27, artigo assinado dizia: “A principal tarefa do governo neste momento deve ser ajudar a resgatar a força das empresas, para que elas fomentem investimentos e novos negócios. Caso contrário, permaneceremos estagnados, vendo nossa competitividade se distanciar cada vez mais dos países que concorrem conosco”. Quem assina? O presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico, José Ricardo Roriz Coelho.
Para o Brasil crescer, não há dúvidas de que precisamos de reformas. Mas não essas que Temer vem propondo, que cortam direitos trabalhistas e agridem aposentados. O Brasil precisa baixar os juros reais, ampliar o crédito, fazer a reforma tributária, a reforma agrária e a política, controlar a remessa (legal e disfarçada) de lucros, e taxar as grandes fortunas. Sem isso, daqui a pouco seremos ultrapassados também pela Indonésia, Colômbia e outros países que estavam a léguas atrás de nós.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
e secretário nacional de Formação Sindical da Força Sindical
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Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje do dia 02 de março de 2017.