Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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• 12/7/2022 - terça-feira



Diretor do Dieese e homem de luta

Antes de fazer carreira e chegar a assessor sindical ou diretor-técnico, ele foi eletricista e também deu aulas na periferia de Diadema. Falamos de Fausto Augusto Junior, que trabalha desde 1996 no Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). 

Casado e sem filhos, morador de Ribeirão Pires, Grande São Paulo, Fausto nasceu no dia 19 de dezembro de 1974. Fausto é Doutor e Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da USP. Atua na área de educação e sindicalismo, relações de trabalho, desenvolvimento industrial e regional e ainda gestão de pessoas e conhecimento. 

Origem - Nascido e criado em Diadema, cidade do Grande ABCD paulista, principal região industrial do País, ele afirma: “A realidade operária foi parte indissolúvel de minha formação escolar e não-escolar. As figuras de macacão operário fazem parte das minhas memórias infantis. Morando em um típico bairro operário, que se constituiu, ao longo da década de 1970, ao redor das indústrias ligadas ao complexo automotivo do ABCD”. 

Obras - Além da realidade local, outra experiência que marcou sua visão de mundo foi o trabalho em obras da construção civil. Ele conta: “Como filho de um eletricista da construção, o cotidiano dentro das obras foi determinante na minha educação. É interessante observar como esses trabalhadores, apesar de considerados os menos qualificados da classe, têm clara percepção do conhecimento que possuem e constituem um sistema de formação profissional informal, a partir da dinâmica da corporação de ofício e da relação mestre-aprendiz”. 

Eletricista - Ele conta que aprendeu a ser eletricista com seu pai e com os outros, nas obras, auxiliando-os em seu trabalho. “Adquiri conhecimentos de eletricidade, hidráulica, noções de alvenaria e, principalmente, uma forma própria de aprendizado pela prática e um respeito a esse conhecimento.” 

Início - Fausto começou a trajetória profissional nas obras com seu pai. Como aprendiz de eletricista ingressou na Escola Técnica Federal de São Paulo no curso de Eletrotécnica. “Oriundo da realidade operária, o ingresso em uma escola profissionalizante foi parte de um projeto de formação voltado para o ingresso no mundo do trabalho industrial”.

Experiência - Ele conta que a formação da Escola Técnica, no curso de Eletrotécnica, ampliou seus conhecimentos e perspectivas. “Na formação técnica da ETFSP aconteceram meus primeiros contatos com a ciência enquanto ferramenta pra compreensão e intervenção da realidade.” Na escola, ele teve seu primeiro contato com o movimento estudantil secundarista, que naquela época vivia dois processos: o debate sobre as eleições diretas pra direção da ETFSP e o movimento dos caras-pintadas, parte da mobilização que levaria ao impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. 


Após concluir o curso em Eletrotécnica, Fausto Augusto Junior trabalhou na Eletropaulo, no momento das discussões sobre sua privatização, e depois na extinta TVA, na implantação da TV por assinatura no Brasil dos anos 1990. Em 1994, entrou para o curso de Ciências Sociais na USP. Após acidente de trabalho (queda de um telhado), ele saiu da TVA e iniciou sua história como professor da rede pública estadual de São Paulo em uma escola na periferia de Diadema. 

Como calouro no curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e professor de escola pública, ingressou no movimento estudantil. Ele destaca: “Esse movimento me colocou em meio às reflexões sobre a organização das universidades públicas e em todo debate sobre as concepções que disputavam o projeto de universidade na USP”. Ao mesmo tempo que sua trajetória profissional, cada vez mais, se aproximava das questões e dificuldades do mundo do trabalho, ele conta que no curso de Ciências Sociais vivia-se a crise da centralidade do trabalho e o questionamento dos paradigmas da modernidade.

Dieese - A entrada no Dieese aconteceu em 1996 em meio à crise do emprego no Brasil, caracterizada por altas taxas de desemprego e um processo contínuo de flexibilização das relações de trabalho. Ele explica que, naquele momento, a reestruturação produtiva das empresas punha fora do mercado um imenso número de trabalhadores e fortalecia a ideia do desemprego como algo de responsabilidade individual, relacionada à carência de formação do trabalhador. 

No Dieese, ele começou fazendo análise das negociações coletivas no Sistema de Acompanhamento de Contratação Coletiva. Logo, seguiu pra assessoria direta ao dirigente sindical na Federação dos Trabalhadores da Construção Civil e do Mobiliário do Estado de São Paulo. Ficou por dois anos. “A relação direta com os problemas concretos dos dirigentes sindicais, em um setor tão oprimido e condições de trabalho precárias, reforçou-me a ideia de que o conhecimento precisava servir a um interesse específico da classe trabalhadora, buscando a intervenção na realidade”, afirma.

Após sair da Feticom-SP, assumiu a supervisão temporária do Escritório Regional do Dieese na Bahia. “Essa experiência me possibilitou adentrar na estrutura administrativa e política do Departamento. Também a compreender todas as estruturas da instituição”, comenta. Em seguida, voltou a São Paulo pra integrar a equipe de educação do Dieese. “Com os debates sobre educação que se aprofundavam, senti a necessidade de retornar à universidade e ingressei no curso de licenciatura em Ciências Sociais na Faculdade de Educação da USP”.

Após isso, Fausto voltou a fazer assessoria junto ao Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo. 

ICV - Com o ingresso no programa de mestrado da FE-USP, ele iniciou o processo de produção do conhecimento que deu origem ao Índice de Custo de Vida do Dieese. Ele diz: “O ICV é objeto de minha dissertação de mestrado, apresentada e aprovada em 2010”. 

CUT - Entre 2003 e 2009, foi assessor pelo Dieese na Central Única dos Trabalhadores e participou dos principais debates e negociações. Fausto lembra: “Vivi as contradições da relação com o governo Lula, com destaque para a negociação da reforma da Previdência, da Trabalhista e Sindical no Fórum Nacional do Trabalho e na negociação da política de valorização do salário mínimo”. 

Metalúrgicos ABC - Em 2009, o professor saiu da assessoria da CUT e passou a compor, pelo Dieese, a assessoria ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “Participei das negociações sobre a política industrial que ocorreram com o governo Dilma e os empresários”. 

Escola - Entre 2006 e 2012, Fausto Augusto Junior também fez parte da equipe que discutiu a formulação da Escola Dieese de Ciências do Trabalho. Em 2013, passou a integrar a equipe docente como responsável das disciplinas de produção de conhecimento e de educação. Com o impeachment de Dilma em 2016, Fausto foi deslocado da assessoria no ABC para a Coordenação de Educação do Dieese, com o desafio de buscar sobrevivência para a Escola.
 
Sua entrada na Coordenação de Educação coincide com o ingresso no programa de doutorado da Faculdade de Educação da USP, que concluiu em 2020, tendo como tema a educação sindical e a criação da Escola Dieese de Ciências do Trabalho. 

Fatos - O período de sua direção do Dieese foi marcado pelo golpe institucional de 2016, Reforma Trabalhista de 2017, prisão do ex-presidente Lula e eleição de Bolsonaro. Ele resume: “Momento de profunda crise do movimento sindical e de reorganização do Dieese”. Assumi a direção-técnica do Departamento um mês antes da decretação da pandemia da Covid-19. 

Ele recorda os desafios: “Tive que reorganizar o trabalho com uma equipe reduzida à metade pela crise iniciada em 2016 de modo a apoiar a resistência do movimento sindical contra os ataques constantes do governo Bolsonaro aos diretos dos trabalhadores e a democracia”. 

Luta – Segundo Fausto, nunca houve em sua trajetória profissional separação entre o trabalho e a militância. “A busca por um mundo melhor e mais justo é meu trabalho e minha luta”, afirma. 

Alegria - “Ter participado da negociação do salário mínimo foi um dos momentos mais felizes da minha trajetória; afinal ajudou a melhorar a vida de muita gente”. Fausto conclui: “Falar de futuro em um Brasil tão sofrido é difícil pra todos. Mas tenho a esperança de ver em breve nosso País tomar o caminho do desenvolvimento econômico e social e voltarmos a pensar em um futuro melhor pra todos”.
   
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