Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
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• 4/10/2022 - terça-feira



Negro, pobre, metalúrgico e líder sindical.
A história de Kalki, aos 80 anos

A vida de Kalki nunca foi fácil. Sempre foi de muito suor derramado, lágrimas contidas e preconceito por ser negro, pobre e operário. Isso desde a infância na cidade de Ervália, interior de Minas. Começou a trabalhar muito cedo pra ajudar os pais e os irmãos - ele é o terceiro de nove filhos.

Kalki nasceu José Geraldo Leal, no dia 27 de outubro de 1942. Chegou a Guarulhos em 1966, quando o Sindicato tinha apenas três anos de existência. Por quase 20 anos - entre 1972 e 1991, foi dirigente sindical na entidade.

Em plena ditadura, período duro da história do País, quando milhares de brasileiros foram presos, banidos ou torturados pelo regime e muitos morreram, ele era chamado de “comunista” e “agitador” dentro da fábrica onde trabalhava. Aliás, seu primeiro emprego como metalúrgico naquele 1966, na metalúrgica Cosmos.

BEBIDA ALCÓOLICA - “Eu organizei os companheiros e paramos a fábrica pra reivindicar a entrega de lanches depois de cada turno. O patrão tinha a artimanha de distribuir bebidas alcóolicas aos trabalhadores pra encobrir o atraso de pagamentos.

A história aconteceu na Metalúrgica Cosmos, no Jardim Santa Francisca, Guarulhos. Seu cargo era forneiro. Resultado da greve: acabou demitido por justa causa.

TIROS - Na semana do Natal, de 1985, os cerca de 50 trabalhadores da Maicon Aras, em Guarulhos, denunciaram ao Sindicato que o salário de dezembro e o 13º não haviam sido pagos. O dirigente sindical foi à fábrica e parou toda a produção. O dono, para intimidá-lo, sacou um revólver e efetuou vários disparos pro alto.

A fim de evitar que algum trabalhador fosse ferido, ele não pensou duas vezes: arrancou um paralelepípedo da rua e foi contido pelo próprio secretário do Trabalho de Guarulhos, chamado também ao local. Os ânimos se acalmaram e o patrão foi levado ao Ministério do Trabalho pra acertar as contas.

SINDICALIZAÇÃO - Kalki não se esquece do dia 26 de agosto de 1966. Ele conta: “Foi um dia de muita felicidade na minha vida sindical. Assinei minha ficha como sócio do Sindicato dos Metalúrgicos, abonada pelo companheiro Armelino Gross, nosso diretor”. Até hoje, mostra com orgulho a carteira do Sindicato, matrícula número 3.867.

LUTA - Sua consciência em prol dos trabalhadores foi despertada não somente pela vida dura que teve de enfrentar desde criança. Mas, principalmente, por um triste fato que marcou sua vida pra sempre. Kalki conta: “Hoje se fala muito no combate à corrupção e isso é um mal antigo no nosso País. Meu pai trabalhou durante anos no comércio de Minas e, quando foi se aposentar, descobriu que a empresa não recolheu os encargos. Não conseguiu se aposentar. Morreu à míngua. Desde esse dia prometi lutar por mim e por meus companheiros”.

HINO - Kalki se emociona. Canta um trecho de uma canção – “Metalúrgicos, orgulho de nossa arte/Trabalhadores pra grandeza da Nação”. Explica: “É o Hino dos Metalúrgicos, que infelizmente poucos companheiros conhecem”.


Jornalista Gil Campos entrevista Kalki na sede do Sindicato

Trechos da entrevista

INFÂNCIA - Terceiro de nove irmãos, começou a trabalhar na infância pra ajudar os pais. Aos 21, saiu de Minas e foi pro Estado do Rio. Trabalhou no comércio e numa empresa terceirizada que fazia fundações para o Metrô.

GUARULHOS – Em 1966, a convite do irmão Miguel Arcanjo, que morava no Jardim Munhoz, arrumou as malas e desembarcou por aqui.

FÁBRICAS - Seu primeiro emprego em Guarulhos foi na Metalúrgica Cosmos, de onde acabou demitido por justa causa por parar a fábrica e reivindicar lanches aos trabalhadores, que recebiam do patrão bebidas alcóolicas. Trabalhou também na Cindumel e Flexform.

SINDICATO – Se associou ao Sindicato no dia 26 de agosto de 1966. Foi dirigente por quase 20 anos.

DITADURA - Conta: “Não tive muitos problemas, mas adotávamos cuidados. Evitávamos tirar fotos de assembleias e outras atividades do Sindicato. E, quando íamos fazer trabalho na porta de fábrica, éramos vigiados”.

AÇÃO NA BASE - “O Sindicato tinha dois carros de som pra ajudar na mobilização. A gente fazia panfletagem também a pé ou de bicicleta”.

UNIÃO - “Mesmo com a pressão da ditadura, a consciência política do trabalhador metalúrgico era muito forte. Havia muito amor ao Sindicato. Muita confiança. Onde o Sindicato ia, os companheiros participavam das assembleias e aderiam ao movimento”.

ESTRUTURA -
Durante seu período como diretor do Sindicato, muitas obras foram realizadas. “Construímos a escola-sede, que foi comprada do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Iniciamos os primeiros 22 apartamentos da Colônia de Férias, em Caraguatatuba”.

CLUBE DE CAMPO –
Ele se emociona. Lembra: “Minha relação com o Clube é de pai pra filho. Recebemos o terreno do prefeito Oswaldo De Carlos. Era só mato. Na área morava uma pessoa que havia invadido o local e nos recebeu armada. Conversamos, indenizamos o que cabia e pouco depois lançamos a pedra fundamental”. O lançamento ocorreu em 1987.

Continua: “Pintei placas indicando o local do nosso Clube de Campo. Elas foram colocadas partindo da avenida Monteiro Lobato. Em cada canto do Clube de Campo tem um pedacinho do trabalho de cada diretor do Sindicato”.

SER SÓCIO -
“Se um jovem metalúrgico vir me pedir um conselho, vou incentivá-lo primeiro a ser sócio do Sindicato e aprender a se organizar. É preciso saber o que vai ser reivindicado. Não adianta reivindicar o que está fora do alcance . O Sindicato dá todas as orientações”.

Hino dos Metalúrgicos

Pra comemorar o Dia do Metalúrgico, em 9 de abril de 1961, foi apresentado o hino da categoria. Letra e música de Carlos Batista (Dia do Metalúrgico: 21 de abril/Dia de Tiradentes).

“Metalúrgicos, orgulho de nossa arte.
Trabalhadores pra grandeza da Nação.
Metalúrgicos, teremos de lutar    
Com coragem e ardor no coração.
Metalúrgicos!  Avante                
Cada um na sua profissão.
Todos unidos seremos fortes,         
Pra nossa maior proteção.
Seja ferreiro, mecânico, fundidor, eletricista,
serralheiro, modelador.  
O Sindicato defende nossas lidas
Devemos apoiá-lo com ardor.”
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