• 17/04/2024 - quarta-feira
Fábrica de Remédio Popular,
a Furp pode ser fechada
Os privatistas não desistem de atacar setores do Estado que cumprem função social. É o caso da Furp (Fundação para o Remédio Popular), mais uma vez sob ataque, agora por parte do bolsonarista Tarcísio de Freitas. O governador tem atuado na surdina pra desmontar a estatal paulista de remédios.
Criado por decreto federal, o laboratório iniciou suas atividades em 1974. Desde então, sempre fabricou e forneceu medicamentos a preços reduzidos a hospitais públicos, entidades filantrópicas e também para o Sistema Único de Saúde - SUS. Atende atualmente mais de três mil cidades em todo o País.
A empresa é a principal produtora de remédios que, devido ao baixo retorno financeiro, geralmente não geram interesse ao setor privado. São os casos de estreptomicina e etambutol, para tratar tuberculose. A Fundação é responsável também por produzir os insumos do coquetel contra a Aids.
Sucateamento - A justificativa para a extinção da Furp é financeira, sob alegação de que dá prejuízos aos cofres públicos. Porém, segundo o presidente do Sindicato dos Químicos de Guarulhos e Região, Antonio Silvan Oliveira, o que ocorre de fato é uma desestruturação proposital.
Ele afirma: “A estatal dava lucro pra Secretaria de Saúde. Mas, depois que firmaram parceria com a iniciativa privada para implantação de fábrica na cidade Américo Brasiliense, começou-se a descapitalizar a planta de Guarulhos”.
Inaugurada em 2009, a unidade de Américo Brasiliense foi construída pelo governador José Serra (PSDB) com a justificativa de melhorar a distribuição dos medicamentos pro Interior. Ocorre que, segundo Silvan, “nunca colocaram a fábrica em funcionamento, embora a parceira sempre tenha usado o prédio - isso gerou um problema de caixa pra Fundação”.
Empregos - Na unidade de Guarulhos atuam cerca de 600 funcionários. Mas, de acordo com o dirigente dos Químicos, ao menos 100 deles estão afastados por motivos de saúde. A maioria devido à LER (Lesão por Esforços Repetitivos), por causa da negligência quanto às normas de segurança do trabalho.
Antonio Silvan conta que a Furp já teve cerca de 1.500 profissionais, atuando em três turnos. “Mas faz parte da estratégia de sufocamento tornar a empresa inviável, reduzir seus quadros, a produção e incentivar o desligamento por meio de programas de demissão voluntária”, acusa.
Convenção - A mudança no reajuste dos empregados é outra atitude pra inviabilizar a Furp. Sob alegação de problema de caixa na estatal, o governo conseguiu na Justiça mudar o sistema de correção salarial. Antes se seguia a Convenção Coletiva dos Farmacêuticos, mas se passou a seguir o funcionalismo público.
“Isso gerou uma defasagem salarial, em média 40% abaixo do mercado. É um problema sério, porque arrocha ganhos e desmotiva os trabalhadores”, critica o sindicalista.
Mobilização - A exemplo do que ocorreu em 2019, na gestão Doria, os Sindicatos se unem pra evitar o fim da Furp. Antonio Silvan explica que pretende se reunir com o atual superintendente da estatal. Se não conseguir, vai acionar o Ministério Público.
Na avaliação do dirigente, o fechamento do laboratório prejudicaria não só os funcionários apenas, mas toda a população brasileira. Em contrapartida beneficiaria a indústria farmacêutica e a especulação imobiliária, que cobiça a área que abriga a Fundação.
“O que o governador está fazendo vai contra sua campanha, quando prometeu reestruturar a estatal”, recorda o sindicalista. As informações sobre a intenção de extinguir o laboratório surgiram depois de um jantar entre o Tarcísio e deputados. “E no cardápio principal estava a Furp”, lamenta o sindicalista.
Antonio Silvan pondera ainda que o fim da Furp vai na contramão do projeto Nova Indústria Brasil, do governo federal, que busca alavancar a produção nacional. Para o setor farmacêutico R$ 30 bilhões. “E o arcabouço desse projeto passa pela valorização da rede pública. Outros Estados possuem fabricantes de medicamentos, mas a Furp é referência”, afirma o dirigente.
Remédios - Atualmente, a Fundação fabrica 33 tipos de medicamentos, entre os quais Dipirona, Paracetamol, Cefalexina, Amoxicilina, Diazepam e outros de largo consumo entre a população.
Cabeça - O presidente Josinaldo José de Barros (Cabeça) defende a Fundação-Furp. Ele diz: “Remédio custa caro. Se a saúde é dever do Estado e direito do cidadão, não tem sentido aniquilar quem produz medicamento popular. O povo vai ficar nas mãos dos laboratórios multinacionais, onde o preço é dolarizado”.
Nosso Sindicato apoiou, apoia e apoiará todo movimento que beneficie o povo, principalmente na questão da saúde.
MAIS - Pra mais informações, acesse o site da fundação em www.furp.sp.gov.br